Conto “O Engenheiro”: Questões De Gênero Numa Sociedade Em Mudança

Essa comunicação pretende utilizar a literatura, particularmente o conto, como fonte de pesquisa em questões de gênero. O Engenheiro, de Roberto Saturnino Braga que compõe Contos de réis (2005), foi a narrativa escolhida em virtude da contradição existente entre a figura feminina e seu ambiente social e familiar. O contexto da obra é a então capital brasileira, Rio de Janeiro, no início do século XX, após a Proclamação da República, momento nacional de consideráveis transformações políticas, sociais, econômicas e nos costumes com vistas a tonar o Brasil um país moderno, assim como era França, denominado pela historiografia como Belle Époque carioca. Assim, nossa abordagem metodológica encontra nas argumentações de Ginzburg (1989) o caminho para o desenvolvimento do propósito desse artigo. Para percebermos nuances na belle époque carioca e parte do cotidiano dessa organização social para além dos dados fornecidos pelo conto, adotamos método do paradigma indiciário, cujo objetivo está em atentar para detalhes aparentemente despercebidos ou desconsiderados, mas que, uma vez apreendidos, fornecem elementos reveladores para a compreensão e entendimento do objeto abordado. A leitura desinteressada do conto pode conduzir o leitor a impressão de que a “Esposa do Engenheiro” padecia de “problemas” traduzidos em estereótipos socialmente construídos. No entanto, a mulher inominada em O Engenheiro era figura feminina de sua época. Pertencente à classe média estava ciente das transformações pelas quais o país, em particular a cidade do Rio de Janeiro sofriam e demonstrou, ao seu modo e particularmente, insatisfação e imensa vontade de viver conforme novos costumes e mudanças.