As tramas da produção de negligência da leptospirose urbana em Salvador

A partir do momento em que as cidades crescem e se transformam sem planejamento, aumentam, também, ambientes vulneráveis a riscos de desastres e problemas de saúde pública. No Brasil, a Leptospirose é um problema de saúde endêmico, principalmente em territórios onde os direitos básicos são ausentes para seus moradores. Apresenta-se aqui uma discussão crítica sobre o processo de produção de negligência em relação a leptospirose urbana, considerando as percepções e atuação de profissionais da APS. Trata-se de um estudo qualitativo, realizado no bairro popular Alto do Cabrito de Salvador/BA. Foram incluídos profissionais de saúde (diferentes categorias) que atuam na Unidade de Saúde do bairro. Foram realizadas 14 entrevistas semiestruturadas, 1 grupo focal com Agentes Comunitários em Saúde e a observação participante com registros no diário de campo. A análise de conteúdo temática foi adotada para o processo de análise e interpretação dos dados. Os resultados apontam a leptospirose como uma doença da pobreza marcada pela invisibilidade de dados populacionais que impedem o reconhecimento maior da população, sua carga de incidência, como também, a naturalização da presença/convivência numerosa dos ratos nas casas e ruas do bairro e a inação dos profissionais de saúde que ali atuam; algo que está atrelado diretamente com as lacunas nas formações e informacionais sobre a doença em seu contexto socioambiental. A ausência de ações intersetoriais unida ao subdiagnóstico clinico, a subnotificação e o próprio descaso com a população acometida, fundamenta discursos segregatícios, de marginalização e menosprezo. Considera-se que a leptospirose é uma doença negligenciada e que a interface saúde-ambiente-cuidado nas práticas de profissionais é incipiente e ineficaz. Ações urgentes são necessárias para atuar abre a produção da negligencia e diminuir as iniquidades de saúde.